domingo, 2 de outubro de 2022

Grupo Bilderberg e a derrocada de Portugal.

 



Os verdadeiros motivos por trás da derrocada monumental de uma grande nação.
«O Senhor Dr. Freire Antunes, muito recentemente, em artigo publicado no jornal Diário de Notícias, diz-nos que, segundo René Pélissier, investigador da História Angolana, "a UPA não tinha, em 1961, uma estratégia nacional, mas uma estratégia meramente tribal para os povos de Bacong e Dembos".
Não nos diz o Senhor Dr. Antunes, nem o Senhor Pélissier, quem financiou este grupo terrorista, mas sabem, com certeza, que foi especialmente a Fundação Ford sob o alto patrocínio dessa sinistra figura que foi a Senhora Eleanora Roosevelt, a mulher do Presidente que entregou metade da Europa ao goulag soviético.
A partir de todos estes auxílios e após muitos anos de luta armada sem conseguirem os seus objectivos — os grupos terroristas estavam na iminência de depor as armas — compreenderam que só com uma acção em Lisboa, conseguiriam alcançá-los.
A dificuldade, porém, com que tinham deparado, noutras tentativas fracassadas, era a de não terem encontrado, nem terem conseguido promover, um descontentamento, que é sempre o ponto de partida para qualquer acção de subversão política. Tinham tentado criá-lo, várias vezes, ao longo de anos, mas sem êxito. O aproveitamento do descontentamento entre os oficiais veio dar-lhes a oportunidade de, a partir dele, conseguirem em Lisboa o que não tinham conseguido com o terrorismo no Ultramar.
(...) As Forças Armadas, por outro lado, estavam na sua quase totalidade, nos territórios ultramarinos. Na Metrópole estavam sobretudo generais na Reserva, oficiais instrutores e recrutas.
Vejamos o que nos diz um órgão da imprensa estrangeira, sobre esta franja não operacional das Forças Armadas.
"Resta apenas o problema da NATO: Spínola promove o contacto com o próprio Secretário da Nato, Joseph Luns, [através] de um dos seus amigos da Finança — o Director dos Estaleiros Navais Portugueses, Lisnave, Thorsten Anderson — que participa em Megève, França (de 19 a 21 de Abril) numa misteriosa reunião de importantes homens da política, da diplomacia e do mundo dos negócios internacionais reunidos num igualmente misterioso clube: o Clube de Bilderberg.
De 19 a 21 de Abril, Megève é zona vigiada pela polícia francesa como se o visitante fosse um Chefe de Estado. De facto, no Hotel Mont Arbois, propriedade de Edmond Rothschild, reúne-se a flor e a nata da política e das Finanças ocidentais. A reunião é discreta, à porta fechada: os jornalistas não falarão dela; mas é ali que será decidido o destino do mundo ocidental. Desde 1954, e do dia da primeira reunião no Hotel Bilderberg, na cidade holandesa de Oosterbeek, sob a presidência do Príncipe Bernardo da Holanda, que os homens mais influentes do Ocidente se reúnem anualmente para estudar a situação 'política e financeira e estudar ou aprovar programas para o futuro'.
Bastam os nomes dos participantes daquele ano na reunião do Clube para que possa compreender-se a sua importância. São os seguintes: Nelson Rockefeller, Governador do Estado de Nova York; Frederick Dant, Secretário Norte-Americano do Comércio; General Andrew Goodpaster, Comandante das Forças Aliadas na Europa; Denis Healey, Ministro da Fazenda inglês; Joseph Luns, Secretário Geral da NATO; Richard Foren, Presidente da General Electric na Europa; Helmut Schmidt, Ministro da Fazenda alemão, actualmente chanceler, após a demissão de Brandt; Franz Joseph Strauss, definido como homem de negócios alemão; Joseph Abs, Presidente do Deutsche Bank; Guido Carli, Governador do Banco de Itália; Giovanni Agnelli, Presidente da Fiat; Eugénio Cefis, Presidente da Montedison e além destes Thorsten Anderson, homem de negócios português que sonda Joseph Luns sobre as possíveis reacções da NATO perante a possível mudança de regime em Lisboa.


A resposta de Luns, certamente positiva, vem a ser confirmada pelo comportamento, já citado no início, dos navios da NATO defronte da capital portuguesa durante as primeiras horas do golpe de Estado. A sua presença actuou como um silencioso dissuasor contra quem, entre os generais ultras, tivesse tentado opor resistência a Spínola. Os generais sabem da presença dos navios e sabem muito bem interpretar a sua saída de Lisboa na madrugada de 25 de Abril. É evidente que a NATO julga saber quem são os iniciadores do movimento, conhece o seu programa e aprova-o. A reunião do Clube de Bilderberg cumpriu os seus objectivos e neste momento Spínola tem o caminho livre".
O Poder político, por outro lado, estava nas mãos de um homem fraco, hesitante e pressionado pelos que viam na Europa do mercado comum a solução para todos os problemas pessoais e nacionais, dominados por uma estranha mística de Terra Prometida, donde esperavam que um fácil maná viesse alimentar os seus apetites, insuficiências e vaidades. Para todos eles os territórios ultramarinos eram o único obstáculo à realização dos seus sonhos europeus. Muitas vezes me disseram que entre os marcelistas se afirmava que era preciso abandonar o Ultramar a qualquer preço. Não me surpreende que tenham vindo a desempenhar um papel de relevo na descolonização exemplar, como, impudicamente, alguém chamou ao vergonhoso e sangrento abandono do Ultramar.
Não me surpreende, na verdade, porque quando o chefe é fraco, tudo à sua volta enfraquece. Por isso mesmo não foi necessário derrubá-lo. Apenas caiu.
(...) Tive conhecimento, em Madrid, através de um oficial que na altura prestava serviço no Quartel do Carmo, que o Prof. Marcello Caetano, logo que entrou, se dirigiu ao Gabinete do Comandante, que ocupou, dando ordens terminantes para que, em circunstância alguma, o interrompessem, tendo fechado a porta à chave. Esteve horas ali dentro, sem contactar com os ministros que o tinham acompanhado, até ao momento em que o General Spínola chegou ao quartel para o proteger de arruaceiros a soldo, que na rua o ameaçavam.
Soube depois, por outra via, que o Comandante Geral da Legião Portuguesa, General Castro, fora uma das pessoas por ele contactadas, tendo-lhe dado ordens para desarmar e dispersar o batalhão que estava no momento a ser municiado. É de presumir que tenha contactado outras entidades militares, dando-lhes instruções para não intervirem. Nesta altura ainda devia estar convencido de que o movimento se fazia a seu favor, o que lhe iria permitir libertar-se do Ultramar, ideia antiga que o obcecava e não conseguira até ali levar a cabo.
Mais tarde, em Espanha, viria a saber pelo Eng. Santos e Castro, que o Presidente do Conselho, quando o convidou para desempenhar as funções de Governador Geral de Angola, lhe dissera que ia com a missão específica de preparar, o mais brevemente possível, a independência do território, informando-o de que igual incumbência fora cometida ao Dr. Baltasar Rebelo de Sousa em relação a Moçambique.
Não tenho dúvidas de que na sua intenção estava a preparação de independências inspiradas no modelo da África do Sul.
Simplesmente o projecto do Professor não estava de acordo com o plano americano-soviético, aprovado na Conferência de Bilderberg, pelo que não passou de um ingénuo útil, mais um, a servir interesses hostis aos de Portugal.
Pelo que ficou dito poderá o leitor melhor avaliar da importância que certamente teve aquela reunião do Clube de Bilderberg na eclosão e desenvolvimento do 25 de Abril e sobretudo tomar consciência das vezes sem conta, quando insuficientemente informados, em que tomamos a aparência pela realidade. Por isso não deve ter sido difícil ao embaixador do CFR, Carlucci e seus ajudantes, aconselhar os nossos aprendizes de feiticeiro a seguir-lhes as sugestões de que dependiam os seus futuros políticos que talvez se possam reduzir a uma só: não façam nada que contrarie o projecto do Governo Mundial, porque nele está a Esperança e fora dele a Tragédia.
O Partido Comunista, por outro lado, o único com quadros bem preparados, apesar da massa militante ser de terceira categoria, o que o impediu de ir mais longe na destruição do País, conseguiu, no entanto, em curto espaço de tempo, ocupar posições-chave que lhe permitiram lançar a confusão generalizada, utilizando técnicas bem conhecidas dos especialistas na manipulação de massas.
Tudo estava bem estudado e planeado para preencher com a desordem, a intimidação e a arbitrariedade, o vazio do poder.
Surpreenderam-se muitos comentaristas da imprensa internacional que num País com uma História tão antiga e tão rica como a portuguesa, fosse possível a desordem manter-se durante tanto tempo e durante ela os portugueses assistirem impassíveis à sua auto-destruição, se não mesmo a aplaudi-la».

Fernando Pacheco de Amorim («25 de Abril. Episódio do Projecto Global»).
(foto abaixo, 1.ª reunião do Clube de Bilderberg, realizada entre 29 e 30 de Maio de 1954.)

sábado, 1 de outubro de 2022

CUF, uma referência a nível internacional.

 

Ainda o tal 25 de Abril, e ainda há quem defenda as nacionalizações, vejam aqui o que foi uma pérola do sistema produtivo português, infelizmente desmembrado na sua grande parte, quando realmente tínhamos empresas de nível internacional, agora temos um tecido industrial de dimensão marginal.
A CUF em 1974
(antes do 25 de Abril e das Nacionalizações )
Para se ter uma ideia do desastre das Nacionalizações, veja-se o exemplo da CUF, Companhia União Fabril. Milhares de "TACHOS" bem pagos aos novos e incapazes dirigentes políticos dessas Empresas e centenas de milhares de postos de trabalho que se foram perdendo com a liquidação das Empresas "manejadas" pelo Estado, que salvo raras excepções, sempre dão tremendos prejuízos.
No início de 1974, antes da Revolução dos Cravos a 25 de Abril desse ano e sua posterior nacionalização, a CUF era umconglomerado que detinha as seguintes empresas :
Banca e Investimentos Financeiros
Banco Totta & Açores (1970)
Banco Totta – Standart de Angola (1966)
Banco Standart Totta de Moçambique (1966)
SOGESTIL – Sociedade de Gestão de Títulos
SOGEFI – Sociedade de Gestão e Financiamento (1964)
Sociedade Geral
International Factors Portugal (1965)
COBRIMPE – Cobranças, Organização e Assistência a Empresas (1972)
Indústria de Construção
EMACO – Empresa de Gestão e Construções (1964)
REALIMO – Estudos e Realizações Imobiliárias (1969)
FUNDUS – Administração e Participações Financeiras
SAEMA – Empreendimentos Financeiros e Comerciais (1964)
IMOBUR
Seguros e Resseguros
Companhias de Seguros Império – Sagres – Universal
Engenharia, Organização e Consulta
ENI – Electricidade Naval e Industrial (1969)
FRINIL – Frio Naval e Industrial (1971)
Empresa Geral de Fomento, planeamento e coordenação de empresas (1947)
NORMA – Sociedade de Estudos para o Desenvolvimento de Empresas (1963)
PENTA – Publicidade (1970)
PROFABRIL – Centro de Projectos (ex. centro de projectos C.U.F.)
Sector Químico
Interacid, Inc. (1971)
Companhia Portuguesa do Cobre (1943)
U.F.A. – União Fabril do Azoto (1948)
Lusofane (1962)
PREVINIL – Empresa Preparadora de Compostos Vinílicos (1969)
Microfabril – Sociedade Industrial de Bioquímica (1961)
VECOM – Sociedade de Limpezas Químicas e Protecções Especiais (1969)
Sector Têxtil
PROTEXTIL – promoção da indústria têxtil (1963)
SITENOR – Sociedade de Indústrias Têxteis do Norte (1962)
IPETEX – Sociedade de Indústrias Pesadas Têxteis (1965)
CICOMO – Companhia Industrial de Cordoarias de Moçambique (1966)
Companhia Têxtil do Punguè (1959)
SIGA – Sociedade Industrial de Grossarias de Angola (1951)
FISIPE – Fibras Sintéticas de Portugal (1973)
Sector de Higiene e Alimentação
COMPAL – Companhia de Conservas Alimentares (adquirida em 1963)
UNICLAR – Internacional de Cosmética (1971)
UNISOL – Sociedade de Distribuição e Exportação (1967)
SONADEL – Sociedade Nacional de Detergentes (1956)
FLORAL – Sociedade de Perfumaria e Produtos Químicos (1937)
INDUVE – Industrias Angolanas de Óleos Vegetais (1957)
PROALIMENTAR – Companhia de Produtos Alimentares do Centro (1968)
SICEL – Sociedade Industrial de Cereais (1963)
SOVENA – Sociedade Vendedora de Glicerinas (1956)
SOVENCOR – Sociedade Distribuidora de Óleos e Sabões nos Açores (1964)
SAPOMAR – Sociedade Madeirense de Sabões (1966)
SUPA – Companhia Portuguesa de Supermercados: Pão de Açúcar (1969)
GERTAL – Companhia Geral de Restaurantes e Alimentação (1973)
Restaurantes: Alvalade, Varanda do Chanceler, e Alfredo´s (Alvor)
Sector Metalo-Mecânico
MOMPOR – Companhia Portuguesa de Montagens Industriais (1972)
EQUIMETAL – Empresa Fabril de Equipamentos Metálicos (1973)
FERUNI – Sociedade de Fundição (1969)
Sector Eléctrico
JOMAR – cabos eléctricos e telefónicos (adquirida em 1972)
EFACEC – Empresa Fabril de Máquinas Eléctricas (1948)
Industrias Petroquímicas
PETROSUL – Sociedade Portuguesa de Refinação de Petróleos (em associação com a SONAP) 1972
Companhia Nacional de Petroquímica (1972)
Sociedade Portuguesa de Petroquímica (em associação com a SACOR) 1957
Minas
Sociedade Mineira de Santiago (1966)
ECA – Empresa do Cobre de Angola (1944)
Pirites Alentejanas (1973)
Indústria do Papel
Celuloses do Guadiana (1956)
CELBI – Celulose Beira Industrial (em associação com a Billerud) 1967
Tabaco
A TABAQUEIRA (1927)
Estaleiros Navais
LISNAVE – Estaleiros Navais de Lisboa (1961)
NAVALIS – Sociedade de Construção e Reparação Naval (1957)
REPROPEL – Sociedade de Reparação de Hélices Lda. (1971)
GASLIMPO – Sociedade de Gasgasificação de Navios (1967)
SETENAVE – Estaleiros Navais de Setúbal (1971)
Estaleiros Navais de Viana do Castelo (1945)
PROMARINHA – Gabinete de Estudos e Projectos (1969)
H. Parry & Son
Entrada da Lisnave
Navegação
Companhia Nacional de Navegação (1956)
Companhia Moçambicana de Navegação (1971)
Empresa Africana de Cargas e Descargas (1970)
NAVANG – Companhia de Navegação Angola (1970)
NAVETUR – Agências de Turismo e Transportes de Angola (1971)
NAVETUR – Agências de Turismo e Transportes de Moçambique (1969)
NAVEMAR – Agência de Navegação Marítima e Aérea (1970)
NORTEMAR - Agência Marítima do Norte Lda. (1971)
SAMAR – Sociedade de Agências Marítimas (1970)
SOCARMAR – Sociedade de Cargas e Descargas Marítimas (1969)
SONATRA – Sociedade Nacional de Tráfego (1953)
SOPONATA – Sociedade Portuguesa de Navios-Tanques (1947)
Suprema Compañía Naviera S.A. (Panamá)
TRANSFRIO – Sociedade Marítima de Transportes Frigoríficos (1964)
TRANSNAVI – Sociedade Portuguesa de Navios Cisternas (1967)
TRANSMINEIRA (1970)
O Principe Perfeito
Hotelaria e Turismo
HOTAL – Sociedade de Indústria Hoteleira do Sul de Portugal (1962)
SALVOR – Sociedade de Investimento Hoteleiro (1963)
Aluguer de Veículos
EUROCAR – Companhia Nacional de Aluguer de Automóveis (1965)
SARMENTAUTO - Automóveis de Turismo, Lda. (adquirida em 1973)
Empresas Diversas
Companhia Animatógrafica dos Restauradores, (Cinema Éden) 1941
ISU – Estabelecimentos de Saúde e Assistência (1971)
INTERCUF - Brasil (1973)
UNIFA – União Fabril Farmacêutica (1951)
TINCO – Sociedade Fabril de Tintas de Construção (em associação com a ICI) 1958
Editora Arcádia, publicação de livro (1957)
Blanchard Portuguesa (1974)
DCI - Desenvolvimento e Comércio Internacional (1974)
Companhia da Ilha do Príncipe
Empresa António Silva Gouvêa
SOCAJÚ
COMFABRIL – Companhia Fabril e Comercial do Ultramar
CPIN – Companhia Portuguesa de Industrias Nucleares (parceria com várias empresas)
Depois do 25 de Abril de 1974
Após a sua nacionalização por ordem dos governos que se seguiram à revolução do 25 de Abril de 1974, a CUF ficou desmembrada e enfraquecida. Muitos profissionais especializados, equipas de gestão e outros quadros superiores viram-se obrigados a abandonar o país, incluindo elementos da família fundadora da empresa.
Após um longo processo, elementos da família Mello conseguiram reerguer o grupo, que apesar de ter um peso considerável na economia portuguesa actual, está longe da grandiosidade do passado.
Actualmente a CUF é uma holding pertencente ao Grupo José de Mello e detém participações em várias empresas do sector químico, detendo também uma posição de 3% no capital do Banco Comercial Português (BCP), o maior grupo financeiro privado português.

(texto retirado do blog História de Portugal. blogspot)

Arquivo Salazar.

 



Arquivo Salazar.

As concepções político-ideológicas de Salazar configuraram o regime político do Estado Português entre 1926 e 1968. A sua personalidade e vida pública estiveram intrinsecamente associadas ao Estado Novo, sistema conservador e autoritário que criou e que intransigentemente procurou manter. A relevância e a duração dos cargos governativos que ocupou, a multiplicidade das funções que desempenhou, o enorme poder que concentrou e a forma como o exerceu, deixaram marcas profundas no país, na esfera política, económica, social e cultural.
António de Oliveira Salazar nasceu no Vimieiro, Santa Comba Dão, a 28 de Abril de 1889. Em 1900 entrou no Seminário de Viseu, onde concluiu o curso complementar no Liceu Alves Martins em 1910. Neste período proferiu conferências e colaborou nos jornais católicos viseenses "A Folha" e "Ecos da Via Sacra". Ainda em 1910 matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Nesta cidade, a partir de 1912, escreveu no jornal do Centro Académico da Democracia Cristã, o "Imparcia1ª, dirigido por Manuel Gonçalves Cerejeira, onde refutou claramente a política anti-clerical da República e participou na organização da Juventude Católica. Em 1914 concluiu o curso de Direito na Universidade de Coimbra e em 1916 apresentou, na mesma Universidade, uma dissertação de concurso para assistente, intitulada "O Ágio do Ouro. Sua natureza e suas causas (1891-1915)". A partir de 1916, colaborou assiduamente no "Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra" e na "Revista de Legislação e de Jurisprudência". Em 1918 tomou posse do lugar de professor catedrático de Ciências Económicas, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. No ano seguinte foi suspenso da Faculdade de Direito sob acusação de apologia monárquica. Ainda em 1919, candidatou-se a deputado do partido católico, o Centro Católico Português, pelo círculo de Viana do Castelo, não sendo eleito. Em 1921 foi eleito pelo círculo de Guimarães. No ano de 1922, colaborou no jornal "A Época", do Centro Católico Português. Em 1923 participou, em Lisboa, no Congresso das Associações Comerciais e Industriais Portuguesas, com uma tese intitulada "Redução das despesas públicas". No ano seguinte participou no I Congresso Eucarístico Nacional, na cidade de Braga, onde proferiu um discurso intitulado "A Paz de Cristo na classe operária pela S.S. Eucaristia", publicado integralmente no "Diário da Manhã". Em 1925 colaborou no jornal "Novidades", do Patriarcado. Candidatou-se a deputado do Centro Católico Português pelo círculo de Arganil, para o qual não foi eleito. Assumiu a vice-presidência da Comissão Diocesana de Coimbra. No mesmo ano, por iniciativa do Centro Católico Português, proferiu, no Funchal, conferências sobre o "Laicismo e liberdade", "O bolchevismo e a congregação" e apresentou ao X Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências uma tese sobre o "Aconfessionalismo do Estado".
Logo após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, Salazar foi chamado por Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa para ocupar a pasta das Finanças, que assumiu de 3 a 19 de Junho de 1926, segundo os Decreto nº 11.707e nº 11.753, até ao derrube do Ministério de Mendes de Cabeçadas por Gomes da Costa.
No mesmo ano de 1926, colaborou com o ministro das Finanças da Ditadura, Sinel de Cordes, presidindo a uma Comissão para elaborar as bases da revisão fiscal.
Em 1927 escreveu no jornal "Novidades" uma série de artigos sobre as "Contas do Estado", onde criticou a política financeira da Ditadura e o "grande empréstimo" caucionado pela Sociedade das Nações. Em 1928, quando a Ditadura recusou viabilizar o "grande empréstimo", Salazar foi novamente nomeado ministro das Finanças pelo Decreto nº 15.409, de 27 de Abril de 1928, cargo que manteve até 28 de Agosto de 1940, segundo o Decreto nº 30.704. Da acção empreendida, mereceram destaque iniciativas como a reforma orçamental, a criação da Intendência Geral do Orçamento, a reforma da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, a reforma tributária, a reforma aduaneira, a reorganização da Direcção Geral das Contribuições e Impostos, a reorganização da Guarda Fiscal, a criação da Inspecção Geral de Finanças, a reforma da Contabilidade Pública, a criação do Tribunal de Contas, a criação do Instituto Nacional de Estatística, a criação da Junta do Crédito Público, a promulgação da lei sobre a reconstituição económica e um conjunto de diplomas sobre o crédito agrícola e o condicionamento industrial.
Entre 1928 e 1940 Salazar fez publicar, pela pasta das Finanças, 2.363 Decretos e Decretos-Lei.
Em 1930 exerceu por duas vezes o cargo de ministro interino das Colónias, de 21 de Janeiro a 29 de Julho, como comprovam os Decretos nº 17.886 e nº 18.691, e de 3 a 6 de Novembro, segundo os Decretos nº 18.999 e nº 19.014.
A aprovação do Acto Colonial, pelo Decreto nº 18.570, de 8 de Julho de 1930, da Carta Orgânica do Império Colonial Português, pelo Decreto nº 23.228, de 15 de Novembro de 1933 e a reforma administrativa ultramarina, pelo Decreto nº 23.229, do mesmo dia e ano, foram resultados significativos dessa acção governativa.
Como ministro das Colónias, Salazar fez publicar 62 Decretos e Decretos-Lei.
Em 1930 foi lançado o manifesto da União Nacional e em 22 de Dezembro de 1931 foi criado o Conselho Político Nacional, pelo Decreto nº 20.643.
A convite do presidente da República, António Óscar Fragoso Carmona, Salazar foi nomeado Presidente do Ministério a 5 de Julho de 1932, pelo Decreto nº 21.444, cargo que ocupou durante 37 anos.
De acordo com a Constituição da República Portuguesa, promulgada pelo o Decreto-Lei nº 22.241, de 22 de Fevereiro de 1933, competia ao Presidente do Conselho a coordenação e direcção da actividade de todos os Ministros, que perante ele respondiam politicamente pelos seus actos. Para além disso, podia gerir os negócios de um ou mais Ministérios. O Presidente do Conselho era nomeado e demitido livremente pelo Presidente da República. Os Ministros e os Subsecretários de Estado eram nomeados pelo Presidente da República, sob proposta do Presidente do Conselho.
A partir da plebiscitação da Constituição a 19 de Março de 1933, a década de 30 assistiu à institucionalização do Estado Novo e ao lançamento das bases da organização corporativa com a aprovação do Estatuto do Trabalho Nacional, a organização do Subsecretariado de Estado das Corporações e Previdência Social, responsável pela criação das Casas do Povo, dos Grémios, do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência, dos Sindicatos Nacionais, da Federação Nacional para a Alegria no Trabalho e do Sistema de Previdência Social, e ainda com a organização da Câmara Corporativa e do Conselho Corporativo.
Na mesma década foram criadas as organizações de juventude, Acção Escolar Vanguarda, Cruzada Nacional D. Nun'Álvares Pereira e Mocidade Portuguesa.
Após a instituição, em 1933, do Secretariado de Propaganda Nacional e da Direcção Geral dos Serviços de Censura, diversos periódicos monárquicos, republicanos democráticos e independentes, foram silenciados. De igual modo, foram estabelecidos limites à liberdade de associação pela Lei nº 1.901 de 1935 e ilegalizados Sindicatos.
As sucessivas revisões constitucionais, de 1935, 1936, 1937, 1938, 1945, 1951, 1959 e 1965, vieram reforçar os poderes do Executivo, na pessoa do Presidente do Conselho e restringiram ou neutralizaram progressivamente os poderes constitucionais e legais dos demais Órgãos de Soberania
Em 4 de Julho de 1937 Salazar escapou ileso a um atentado à bomba, em Lisboa. A manutenção da ordem pública foi, desde o início dos anos 30, uma preocupação constante de Salazar. Inúmeros discursos e notas oficiosas sobre "Ordem pública" denotam esse tipo de preocupações.
Constituíram instrumentos previlegiados no controlo e repressão dos movimentos de contestação ao regime e dos surtos grevistas, a criação das polícias políticas PVDE e PIDE, em 1933 e 1945, e da organização para-militar Legião Portuguesa, consignada no Decreto-Lei nº 27.058, de 30 de Setembro de 1936, bem como a criação, pelo Decreto-Lei nº 26.539, de 23 de Abril do mesmo ano, da colónia penal para presos políticos no Tarrafal e a obrigatoriadade de apresentação de declaração de "activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas", para ocupar um lugar no Estado e serviços autónomos, de acordo com o Decreto-Lei 27.003, de 14 de Setembro de 1936.
A complexidade das questões politico-militares e diplomáticas decorrentes da importância estratégica de Portugal no contexto de aliança inglesa, da guerra civil de Espanha e da guerra mundial de 1939-1945, levaram Salazar a acumular interinamente a pasta da Guerra, a 11 de Maio de 1936, pelo Decreto nº 26584, e a pasta dos Negócios Estrangeiros, a 6 de Novembro do mesmo ano, pelo Decreto nº 27.161, cargos em que se manteve, respectivamente, até 6 de Setembro de 1944, de acordo com o Decreto nº 33 926 e 6 de Novembro de 1947, segundo o Decreto nº 36126.
Como ministro da Guerra, coadjuvado por Santos Costa, iniciou a reforma do Exército que anunciara nos discursos "Temos de ter um Exército" e "Teremos um Exército". Entre 1936 e 1944 Salazar fez publicar, como ministro da Guerra, 302 Decretos e Decretos-Lei.
Em Março de 1939 Portugal celebrou com Espanha o Pacto Ibérico, tratado de amizade e não agressão e, em Setembro do mesmo ano, no quadro da segunda guerra mundial, Salazar afirmou a "neutralidade de Portuga1ª perante este conflito.
Na caracterização do regime, assumiu particular relevância a relação privilegiada que o Estado manteve com a Igreja Católica, consubstanciada na assinatura, em 1940, da Concordata e do Acordo Missionário, entre Portugal e a Santa Sé.
Na década de cinquenta, mereceram destaque dois acontecimentos que afectaram pessoalmente Salazar e puseram em causa o regime: a candidatura do general Humberto Delgado às eleições presidenciais de 1958 e a carta que o bispo do Porto lhe dirigiu, criticando severamente o regime.
À instabilidade política interna acresceu o surgimento de movimentos de contestação à política ultramarina, nos territórios portugueses da Índia e da África. Estes últimos tiveram expressão significativa a partir da criação do Movimento Popular de Libertação de Angola e do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, em 1956 e da Frente de Libertação de Moçambique, em 1962.
Imediatamente após os primeiros sinais de violência em Angola, em Março de 1961, que marcaram o início da guerra colonial, Salazar assumiu a pasta da Defesa Nacional entre 13 de Abril de 1961, pelo Decreto nº 43 592, e 4 de Dezembro de 1962, segundo o Decreto nº 44 753.
1961 foi também o ano do assalto e da tomada do paquete Santa Maria por um comando oposicionista encabeçado por Henrique Galvão e ainda o ano da ocupação, pela União Indiana, dos domínios portugueses na Índia.
A situação política decorrente da guerra colonial foi internamente agravada, na década de sessenta, pela contestação estudantil e pelos protestos de sectores católicos, tradicionalmente afectos ao regime.
A décima quinta e última remodelação ministerial foi empreendida em 1968.
Entre 1932 e 1968 Salazar fez publicar pela Presidência do Conselho mais de 7.000 Decretos e Decretos-Lei.
Em consequência da grave doença que atingiu Salazar no início de Setembro de 1968, foram "perdidas todas as esperanças C .. ) de poder voltar a exercer, em plenitude, as funções do seu alto cargo", como refere o Decreto nº 48 597, de 27 de Setembro. Pelo conhecimento que directamente colhera de Salazar, "que não desejava morrer no desempenho das suas funções", o Presidente da República, ouvido o Conselho de Estado e usando da faculdade conferida pelo nº 1, do artigo 81º, da Constituição, decidiu exonerar Salazar do cargo de Presidente do Conselho de Ministros e nomear, para o substituir, Marcello José das Neves Alves Caetano.
Salazar morreu em Lisboa, a 27 de Julho de 1970.
História custodial:
Desde o início, até à cessação das funções governativas que exerceu, o Arquivo de Salazar foi constituído e conservado nas sucessivas casas onde residiu: na Av. Duque de Loulé, nº 91, de 1929 a 1932; na Rua do Funchal, nº 9, de 1932 a 1935; na Rua Bernardo Lima, nº 64, de 1935 a 1938; e na Rua da Imprensa à Estrela, nº 30, de 1938 a 1968.
Quando Salazar adoeceu gravemente, um despacho do então ministro de Estado, António Jorge da Motta Veiga, de 21 de Setembro de 1968, nomeou uma Comissão para "providenciar a respeito da guarda e conservação de todos os documentos" que constituíam o seu Arquivo. Para o efeito, foram designados João Pinto da Costa Leite, que presidiu, Diogo de Paiva Brandão, Emília Ferreira e Anselmo da Costa Freitas.
A referida Comissão só pôde iniciar os seus trabalhos depois de "consultada a Senhora D. Maria de Jesus Caetano Freire, na qualidade de fiel depositária dos documentos arquivados na residência oficial de Sua Excelência o Presidente do Conselho", sem cuja concordância a Comissão se sentiu "inibida de proceder a actos" que tivessem por objecto quaisquer documentos depositados naquela residência.
A Comissão encarou a hipótese de fazer a separação, nos processos "oficiais", dos documentos considerados "particulares". No entanto, uma tal solução foi abandonada porque, segundo João Pinto da Costa Leite, uma tal separação iria "lesar a unidade do Aquivo, tal como ele foi organizado e obrigar a um trabalho moroso e de certo modo inglório, que ocuparia várias pessoas durante longas horas, pois estaria em causa a classificação de milhares de documentos, que em não poucos casos dariam lugar a inevitáveis dúvidas de classificação" .
Em Dezembro de 1968 e em Fevereiro de 1969 a Comissão retirou da residência de Salazar e entregou à Secretaria Geral da Presidência do Conselho a documentação que se encontrava no seu gabinete de trabalho.
Em Agosto de 1970, após a morte de Salazar, a Comissão compareceu na residência, onde procedeu à selagem de vários móveis que continham documentação, tendo o Arquivo sido entregue à Secretaria Geral da Presidência
Em 7 de Janeiro de 1981, os Secretários de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, António Brás Teixeira, e da Cultura, Vasco Pulido Valente, determinaram, por um despacho conjunto, que o Arquivo fosse transferido para as instalações da Biblioteca Nacional, uma vez que a Torre do Tombo não tinha condições para o receber. Esta transferência foi realizada durante o mês de Fevereiro de 1981, tendo o respectivo "termo de entrega" sido assinado a 6 de Junho do mesmo ano. O Decreto-Lei nº 77, de 18 de Abril de 1981, que determinou o depósito do Arquivo de Salazar na Biblioteca Nacional, incumbiu esta entidade de tomar as medidas necessárias à conservação, ordenação, inventariação e descrição do mesmo.
Pelo Decreto-Lei nº 279, de 9 de Agosto de 1991, foi determinada a transferência do Arquivo de Salazar (1177 caixas, 2 ficheiros, 1 armário de gavetas com objectos pessoais) da Biblioteca Nacional para as novas instalações da Torre do Tombo, onde veio a ser incorporado a 17 de Janeiro de 1992.
Descrição:
Instrumento decisivo para o exercício do poder político de António de Oliveira Salazar, o Arquivo consigna a forma como esse poder se constitui, estrutura, concentra e prolonga, ininterruptamente, durante mais de quarenta anos. Através do Arquivo, Salazar controla tudo aquilo que, de uma forma directa ou indirecta, interfere nas funções políticas que exerce. O designado "Arquivo de S. Ex o Presidente do Conselho", "Arquivo da residência" ou "Arquivo da casa" é um Arquivo eminentemente político.
Integram o Arquivo diversas séries ou coleções, de entre as quais se destacam, pela extensão e valor informativo, as séries de correspondência.
A "Correspondência Oficial”, que abrange todo o período de exercício de funções políticas de Salazar, testemunha o modo como Salazar se relaciona com os vários Órgãos de Soberania, com os Ministérios que tutela, com os organismos e serviços da Administração Pública, com todo o tipo de pessoas jurídicas, colectivas ou singulares, públicas ou privadas. É o mais vasto e complexo conjunto de processos, que se apresenta subdividido pelas seguintes grandes áreas temáticas: Presidência da República, Presidência do Conselho, Finanças, Colónias, Guerra, Interior, Corporações, Educação, Justiça, Marinha, Obras Públicas, Comunicações e Economia.
A "Correspondência Oficial relativa à Presidência da República" ilustra diversas questões, nomeadamente, a reorganização dos serviços da Presidência da República, as eleições presidenciais, as viagens presidenciais, as mensagens do presidente da República à Assembleia Nacional e a Chancelaria das Ordens Portuguesas.
A "Correspondência Oficial relativa à Presidência do Conselho" decorre fundamentalmente das funções do Presidente do Conselho. Trata-se de "Correspondência" de Salazar com o presidente da República, com a Assembleia Nacional, com os diversos membros do Governo e com os Tribunais. Compreende ainda, entre outros, processos sobre a génese da Constituição Política da República Portuguesa, de 1933, as candidaturas à Presidência da República e à Assembleia Nacional, a organização e funcionamento da União Nacional, das Corporações e Previdência Social, da Câmara Corporativa, do Secretariado Nacional da Informação, da Comissão Nacional dos Centenários, dos Serviços de Censura, da Legião Portuguesa, dos Serviços da Defesa Nacional e da Oposição. Integram a "Correspondência Oficial relativa à Presidência do Conselho" inúmeras minutas autógrafas de Salazar, nomeadamente, de discursos, notas oficiosas, despachos, entrevistas, audiências e sucessivas versões de diplomas, que reflectem orientações políticas e ideológicas de fundo ou respondem a questões políticas concretas. Esta "Correspondência" compreende também relatórios, ofícios, telegramas e cartas recebidas das mais variadas entidades.
A "Correspondência Oficial relativa às Finanças" continua assuntos pendentes, que transitam da anterior gerência de Sinel de Cordes. Neste conjunto ganham relevância, entre outros, processos relativos às Alfândegas, aos Bancos - Banco de Fomento Nacional, Banco de Portugal, Banque des Rêglements Internationaux, Caixa Geral de Depósitos- Crédito e Previdência, à Casa da Moeda, ao Tribunal de Contas, à Junta do Crédito Público, às contas do Governo nos bancos estrangeiros, à Guarda Fiscal, à Inspecção de Seguros, à Inspecção Geral de Finanças, à Inspecção Geral dos Fósforos, à Inspecção Geral dos Tabacos, ao Montepio dos Servidores do Estado, à Fazenda Pública, à Contabilidade Pública, aos orçamentos e contas, à reforma tributária, às execuções fiscais, à dívida flutuante, aos cambiais de exportação e à estatística.
A "Correspondência Oficial relativa ao Ultramar", no período em que Salazar assume interinamente a pasta das Colónias, em 1930, compreende, nomeadamente, os processos sobre as finanças coloniais, a reforma bancária do ultramar, o Banco de Angola, o Banco de Fomento Colonial, o Banco Nacional Ultramarino, e as reivindicações coloniais por parte da Alemanha. Do período em que Salazar se ocupa dos assuntos ultramarinos, na qualidade de Presidente do Conselho, destacam-se os processos relativos à Lei Orgânica do Ultramar, às companhias coloniais, aos caminhos de ferro e aos portos ultramarinos. A partir de 1961, é intenso e permanente o acompanhamento, por parte de Salazar, da situação político-militar nos vários territórios africanos e asiáticos sob a dominação portuguesa. Ilustram a situação de guerra
nas colónias africanas portuguesas, inúmeros telegramas, informações, e relatos de emissões de rádio, provenientes de entidades com responsabilidades policiais ou militares, sediadas nesses territórios.
A "Correspondência Oficial relativa à Guerra" retrata, predominantemente, o período em que Salazar acumula interinamente aquela pasta, de 1936 a 1944, e compreende, entre outros, processos sobre as reformas militares e o rearmamento do Exército e da Aviação
Na "Correspondência Oficial relativa aos Negócios Estrangeiros", do período em que Salazar exerce as funções ministro dos Negócios Estrangeiros, entre 1936 e 1947, ganham proeminência os processos relativos à posição portuguesa de "não intervenção" na guerra civil de Espanha e de "neutralidade" na guerra de 1939-1945. Integram esses processos, informações, relatórios e relatos de conversas, provenientes de personalidades nacionais ou estrangeiras, com funções diplomáticas ou incumbidas de missões especiais. O comércio externo é outra matéria relevante neste período. Da fase subsequente, em que Salazar se ocupa da política externa na qualidade de Presidente do Conselho, a "Correspondência" ilustra as posições de Portugal no contexto do plano Marshall, da ONU, da NATO e da UNESCO.
A "Correspondência Oficial relativa ao Interior" compreende, entre outros, processos relativos à preparação do Código Administrativo, às polícias, aos Governos Civis, às Câmaras Municipais, às Ilhas Adjacentes, à saúde, à assistência e ao pagamento de despesas reservadas com publicidade, propaganda e ordem pública.
A "Correspondência Oficial relativa às Corporações" reflecte a política social e corporativa e integra, nomeadamente, processos sobre a criação, organização e funcionamento dos organismos corporativos e de previdência social, as relações laborais e o problema habitacional.
A "Correspondência Oficial relativa à Educação" reune, entre outros, processos respeitantes às reformas do ensino primário, liceal e superior, ao plano de construção de escolas primárias no âmbito das Comemorações dos Centenários, à construção de liceus e de escolas do ensino técnico, à Junta . Nacional de Educação, à situação dos Museus, Bibliotecas e Arquivos, à Acção Escolar Vanguarda, à Mocidade Portuguesa, à Obra das Mães pela Educação Nacional, ao ensino particular, à criação do Centro de Estudos Universitários de Angola, às Associações de Estudantes, aos protestos estudantis e à repressão exercida sobre os estudantes.
A "Correspondência Oficial relativa à Justiça" compreende, nomeadamente, processos sobre o inquilinato, o Código do Notariado, o Código de Registo Predial, o Código do Registo Civil, o Código da Propriedade Industrial, o Código Penal, a revisão do Código Civil, a reorganização da Polícia Judiciária, a restituição de bens eclesiásticos à Igreja Católica, o Estatuto Disciplinar dos Funcionários do Estado, a construção de Palácios da Justiça e os pedidos de amnistia.
A "Correspondência Oficial relativa à Marinha" reune, entre outros, processos sobre a reorganização da Marinha Mercante, o rearmamento da Marinha de Guerra, as ocorrências em águas territoriais portuguesas ou com navios portugueses durante a guerra de 1939-1945, e a situação das pescas.
A "Correspondência Oficial relativa às Obras Públicas" contém, nomeadamente, processos sobre os caminhos de ferro, os correios, os telégrafos e telefones, a radio, a electrificação do País, a actividade da Junta Autónoma das Estradas, os transportes rodoviários, a construção urbana, os melhoramentos rurais, as companhias de aviação, os aeroportos, os portos e a construção de pontes, com especial destaque para a ponte sobre o Tejo.
A "Correspondência Oficial relativa às Comunicações" integra processos que transitam, em 1946, do âmbito do Ministério das Obras Públicas para as Comunicações. São relevantes, entre outros, os processos sobre a rede nacional de transportes ferroviários, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses e outras, o Metropolitano de Lisboa, SARL, as companhias de aviação, nomeadamente, os Transportes Aéreos Portugueses, os aeroportos, os flortos, The Anglo-Portuguese Telephone Company, Limited, a Companhia Portuguesa Rádio Marconi, e a participação portuguesa na International Civil Aviation Organization - ICAO.
A "Correspondência Oficial relativa à Economia" contém, nomeadamente, processos sobre a indústria, a siderurgia, os Planos de Fomento, as hidroeléctricas, a SACOR, a Organização Europeia para a Cooperação Económica Externa, o Mercado Comum da Europa, o intercâmbio comercial com os países de Leste, a integração do espaço económico português e o sistema de compensação e de pagamentos interterritoriais.
A "Correspondência Diplomática" provém de diplomatas ou de personalidades portuguesas, que desempenharam missões de carácter diplomático, durante a guerra civil de Espanha e a guerra de 1939-1945.
O conjunto documental designado por "Negociações Diplomáticas" diz respeito às relações de Portugal com diversos Estados. Integra correspondência trocada com diplomatas ou outras personalidades, portuguesas e estrangeiras.
A colecção intitulada "Comissão do Livro Branco do Ministério dos Negócios Estrageiros" visa ilustrar alguns dos mais complexos problemas que ocupam Salazar, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1947 Santos Costa é incumbido por Salazar de constituir esta colecção, para publicação. Para o efeito, são seleccionados documentos de diversas proveniências, em especial do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Compreende os acordos de pagamentos com a Grã-Bretanha, o Air Transport Comand, a defesa nacional e a aliança inglesa, as facilidades em Santa Maria, as facilidades nos Açores, a missão militar britânica, Timor, a vigilância na costa de Moçambique e o volfrâmio.
Por sua vez a "Correspondência Oficial Especia1ª reflecte os contactos diplomáticos que Salazar mantém, no pós-guerra, com chefes de Estado, diplomatas, personalidades portuguesas e estrangeiras e instituições internacionais.
A "Correspondência Particular" retrata questões de natureza política ou pessoal, veiculadas a Salazar por cerca de seis mil correspondentes, nacionais ou estrangeiros, com ou sem funções públicas. São processos tipologicamente heterogéneos, que incluem desde cartões de visitas ou de boas festas, a cartas, telegramas, memorandos e relatórios, frequentemente, confidenciais. Ilustram este conjunto os processos de correspondência com figuras anónimas ou personalidades relevantes da vida pública portuguesa e inúmeras personalidades estrangeiras.
O conjunto dos "Diários" ilustra, dia-a-dia, hora-a-hora, de forma praticamente ininterrupta, a actividade pública e privada de Salazar, entre 1 de Janeiro de 1933 e 6 de Setembro de 1968. Compreende setenta e dois volumes encadernados (22x16 cm).
Os "Papéis pessoais" reunem testemunhos desde a fase que antecede o exercício de funções governativas até ao fim da vida de Salazar. Compreende escassa correspondência com a família e documentos vários sobre a actividade docente, as despesas com vestuário, as despesas em Santa Comba Dão, as despesas da casa de Lisboa, os contactos com a Coimbra Editora sobre direitos de autor, a assinatura de revistas, a compra de livros, os exames médicos, as listas de cumprimentos durante a doença e documentação relativa à comparência de Salazar no acto eleitoral de 1969.
Os "Papéis relativos ao funera1ª incluem os procedimentos oficiais adoptados após morte de Salazar e a organização do funeral, bem como testemunhos da actividade da Comissão encarregada da guarda e conservação do Arquivo.
Também constam do Arquivo livros de registos e ficheiros, que elucidam sobre as publicações que terão existido na "biblioteca privativa" de Salazar.
Organização:
Foi mantida a organização e a ordenação de origem das várias séries e colecções que integram o Arquivo.
A série "Correspondência Oficial” e a colecção "Comissão do Livro Branco do Ministério dos Negócios Estrangeiros" têm organização temática, com subdivisão cronológica.
As restantes séries "Correspondência Particular", "Correspondência Diplomática", "Correspondência Oficial Especial" e "Negociações Diplomáticas" têm ordenação alfabética, com subdivisão cronológica.
A série "Diários" e as colecções "Papéis Pessoais" e "Papéis relativos ao Funeral” têm ordenação cronológica.
A organização da "Correspondência Oficial” é particularmente complexa, pela dispersão física das peças de um mesmo processo, resultante de arquivamentos efectuados em momentos distintos e pelo desdobramento de determinados processos em novos processos relacionados.
De relevar ainda o facto de não ter existido no Arquivo um registo sistemático da correspondência recebida ou expedida.
(fonte, Associação dos Amigos da Torre do Tombo)

@União Nacional-Salazar


Mais uma vez a grande traição à nação portuguesa, a vergonhosa descolonização.

 

«Em Portugal, o Povo sempre que lhe explicaram - informando-o - dos assuntos públicos, com a limpidez do "dois mais dois são quatro", percebeu e agiu, com uma intuição atávica que muitos povos gostariam de possuir. Quando o informam e esclarecem, o povo português esquiva-se a armadilhas e às técnicas da guerra psicológica. Instintivamente.
Por tudo isto, impunha-se aproveitar o "tempo de antena" concedido aos candidatos, para expor, à luz dos projectores, a face oculta dos eventos pós "25 de Abril", para corrigir calúnias e mentiras, para desfazer mitos, para apontar os autores da nossa desgraça, para abrir os olhos a uns tantos militares, no que se refere às técnicas de pressão a que estrangeiros nos têm sujeitado.
Mais uma vez, na nossa História milenária, fomos levados, pela cegueira dos governantes, à miséria, à subserviência, à derrota.
A invasão que suportámos, tinha pendões estranhos. Grandes figuras políticas, militares de elevada patente, muitos portugueses, são culpados dessa invasão, que causou prisões, ruína e morte.
Apenas dois exemplos:
Em Moçambique, a descolonização dita "exemplar" levou para as cadeias centenas de portugueses, homens, mulheres e crianças. Acusavam-nos de "crimes contra a descolonização". Três meses antes da independência, as forças portuguesas às ordens do comandante Vítor Crespo, Alto-Comissário de Portugal, entregou um grupo de sete desses prisioneiros à FRELIMO, para serem mortos. Mantiveram-nos, contudo, durante mais de um ano e meio, em campos de "reeducação". As restantes centenas foram sendo progressivamente libertadas e, em Novembro de 1976, ainda havia cerca de vinte prisioneiros brancos.
Em Angola, o Alto-Comissário Leonel Cardoso, à data da independência, deixou centenas de portugueses nas cadeias angolanas. Tinham sido presos durante o período de soberania portuguesa, suspeitos de colaborarem com a UNITA e a FNLA. Nunca mais foram libertados.
Portugal, ao deixar presos políticos nas mãos dos novos governantes, praticou um acto de abdicação de soberania, de que o Governo de Lisboa é responsável.
Não me foi possível levantar, perante o povo português, a voz que expressasse o drama da minha Pátria, de que os refugiados são as maiores vítimas. A manipulação e o silenciamento mantiveram-se. Não pôde, até hoje, um milhão de pessoas exprimir-se livremente. Um milhão de pessoas caladas pela democracia».
«"Patriotismo", para Otelo, era sentimento obsoleto e traduzia-se por Democracia e Descolonização! Este, o princípio e fim, da Revolta militar, numa homenagem hipócrita do Vício à Virtude. Eufemisticamente, apelidaram a repressão à violência do terrorismo de "Guerra Colonial". Esta a maior hipocrisia! O Governo do antigo-regime, apodado de fascista, não encontrou meios de impedir o empolamento do militarismo, vício dum exército que se virava para político e que se mostrava sem espírito militar.
Na verdade as Forças Armadas Portuguesas não foram vencidas! Foram traídas, por uma minoria de palhaços fardados e políticos partidários, alcunhados de progressistas, tão insignificante que poderíamos em linguagem matemática, compará-lo ao DX - o menor factor de uma equação. Todavia, esta minoria conduziu Portugal à anarquia, à desordem, à ruína. Ao povo vendeu-se uma imagem que depois, dolorosamente a realidade desmentiu. Mas, o povo, na doce enbriaguês da "Democracia", deixou-se alienar pela "Suave Mentira" e manifestou-se, vivamente, em alarido, num tipo de reacção delirante. Delírio que levou ao suicídio, porque a Verdade foi profundamente prejudicada. Os "capitães de Abril" apareceram, catapultados por duas razões: "reivindicações de classe" e por "fuga de medrosos das comissões no Ultramar", imbuídos já da adesão a ideologias fanatizadoras e exóticas.
(...) O que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, foi um grande equívoco! Mas, não foi um enigma! Lamentável é que a maioria dos Portugueses dos tais 70% que não são analfabetos, a começar pelos políticos, não tenham lido Lenine. Não teriam, leviana e ingenuamente, sido ludibriados pela "Revolução" nem permitido um 27 de Julho, um 28 de Setembro, um 11 de Março. Não aceitariam um Costa Gomes nem um Vasco Gonçalves! Não aturariam as loucas e cruéis atitudes dum Otelo, nem os crimes dum Crespo e dum Rosa Coutinho. Doloroso que os trabalhadores - com acentuada expressão nos "papadores" -, numa cega e obstinada visão ideológica, não tivessem percorrido os textos mais importantes daquele revolucionário bolchevique. Não bajulariam um Cunhal nem rodopiariam na órbita do socialismo de miséria de Mário Soares. Na verdade, a apelidada "Revolução" foi um grande equívoco, não só para os seus obreiros, mas, acentuadamente, por parte dos homens da oposição - os democratas que conheci e estimei, mesmo nos do Movimento da Renovação Democrática e dos outros que não eram oposição mas "opositores" ao regime antes vigente.
(...) E o que criou a "Revolução"? Para além de agravar os problemas sociais e económicos, forjou, sim, a mediocridade, a indisciplina, o absentismo, a incompetência. Mas, fez neste pobre e pequeno País, uma larga sementeira de ódios! Preocupados com a socialização dos meios de produção e a eliminação da burguesia e dos grandes proprietários esqueceram-se da Nação! Com a fúria de acelerar a estatização dos meios de produção e a apropriação pelo Estado dos métodos capitalistas, as ocupações selvagens, a desordem agrária, o esbanjamento rápido das reservas de ouro, conclamam-se, histericamente, senhores das conquistas da Revolução, das amplas liberdades! Para mim, que não sou nem nunca fui "fascista" - até hoje os democratas-progressistas não definiram o que é um fascista - das "amplas liberdades" recebi umas "cacetadas amplas", que me provocaram inconsciência durante seis horas, no Hospital de S. José!
(...) E os efeitos do "Processo Descolonização", com uma solução absurda, levam-nos a fazer, humildemente, uma confissão, a de um erro, que na altura devida será retratado. Sofro, penosa e angustiadamente, de dois grandes arrependimentos. À sociedade confesso que, mesmo expulsando os meus ressentimentos mudos, venho pagando bem caro - eu e os milhares de Refugiados de Angola - bem caros, sim, esses arrependimentos. O primeiro, o de não ter permitido o rapto do general Silvino Silvério Marques! Tudo estava planeado com determinação e firmeza, para realizar no Aeroporto, na noite do seu inopinado regresso a Lisboa!
O segundo, não ter consentido no assassínio de Rosa Coutinho, à sua chegada a Luanda! Esta confissão deve encher de raivas o almirante Leonel Cardoso, que tanto sonhava com a tal lista (de que fazia parte) dos assassínios a cometer pelos homens da FRA... A pretensa matança dos confessos traidores e carrascos.
(...) Não se pode nem será mais fácil para a maioria dos portugueses dizer adeus a oito séculos de História. A crónica política da "Descolonização" é uma galeria de génios da destruição, de virtuosos da dissimulação, de despudorados mistificadores e de mágicos da ubiquidade!
Não tanjo fados de saudade nem procuro a balbúrdia do exagero das palavras. Não desço às espertezas políticas que puderam alterar o fluxo dos problemas sociais e detonar os instintos primitivos, tal como aconteceu com os feiticeiros do "Processo Original", criando condições à mais feroz barbária e originando um clima de terror, logo transformado em pânico, em sacrificadas populações indefesas. Nem pretendo já argumentar "se um Presidente da República provisório e um Governo provisório, desacompanhados de orgãos representativos eleitos, podiam, com legitimidade amputar diabolicamente, uma Nação". Afirmo, sim, convictamente, que para o Crespo, o Costa Gomes, o Rosa Coutinho, o Melo Antunes, o Almeida Santos e outros da prateleira do etc., aumenta, sem surpreendente verificação, o valor da conta que a História sempre resgata aos traidores! Estes homens, aos olhos dos ultramarinos, qualquer que seja a sua etnia, responderão perante esta geração e perante a História! Já chorei de sofrimento, de desespero e de vergonha! Senti todos os transes da Humilhação. A única vitória dos chamados "colonos" foi a sua sobrevivência! Se é difícil criticar um "processo" qualquer, enquanto ele ainda está a decorrer, neste "original" caso, tudo se previu! Angola, tinha caído no vulcão danoso da traição!».
Pompílio da Cruz («Angola: Os Vivos e os Mortos»).

Militares portugueses abandonados, traídos e condenados à morte!!!

 

Apenas uma pequena amostra do que foi o abandono das nossas tropas e portugueses autóctones nas nossas ex-colónias, uma atitude infame, vergonhosa, sem descrição possível, em suma uma amostra do nojo que país em que este país se tornaria com gente sem um mínimo de humanidade ao seu leme.

Falo por mim, um sentimento de repulsa enorme em relação a todas estas situações, será que este povo morreu, ou por contrário se tornou completamente desprovido de memória em permanente estado de negação.
«Em Moçambique, a bandeira de Portugal é arrastada de rojo pelas ruas de Lourenço Marques. Em Angola, o major Pezarat Correia desarmara os brancos para que estes não se intrometessem ou sequer viessem a ter qualquer peso nos pratos da balança com que se havia acertado os acordos, tendo como resultado a instalação do terror e a vergonha de ver unidades do Exército serem obrigadas a abandonar os quartéis em cuecas.
Na Guiné, ainda antes da independência e à medida que as Forças Armadas portuguesas retiram, explode o sentimento de vingança do PAIGC contra os seus concidadãos que estiveram ao lado de Portugal, e começam os assassinatos. A primeira vítima é o tenente Abdulai Queta Jamanca, que pertencera à 1.ª Companhia de Comandos africanos e participara na operação "Mar Verde", um herói condecorado pelo general Spínola. Jamanca era um mito entre os africanos, um príncipe local que, servindo então na Companhia de Caçadores 21, em Babadinca, foi fuzilado naquela localidade após ter sido preso numa horta próximo de sua casa.
Os meses passam mas a situação em nada melhora. Logo a seguir ao golpe de 11 de Março de 1975, em Lisboa, o PAIGC lança uma enorme operação de limpeza entre os ex-soldados, os ex-marinheiros e os ex-milícias, portugueses e guineenses, com o argumento falacioso de que pretendiam desferir um golpe de estado na Guiné. Largas centenas de antigos militares são presos, torturados e fuzilados (500 segundo as autoridades locais informaram posteriormente, 1.000 de acordo com os seus companheiros sobreviventes). Muitos dos prisioneiros são pendurados pelos pés e chicoteados até à exaustão; outros, obrigados a carregar às costas gigantescos pneus de Berliet, e as respectivas jantes.
Joaquim Baticã Ferreira, rei manjaco e antigo deputado da Assembleia Nacional Popular, muito querido do seu povo, credor de grande consideração por parte das autoridades portuguesas, e Didi, um sargento dos comandos africanos natural de Cadgindjaça - povoação um pouco a norte de Bissau -, ambos são fuzilados depois de um julgamento fantoche sumário. Para os humilhar, amarram-lhes as mãos atrás das costas e, de joelhos no chão, nem lhes dão o direito a defender-se. Aquilo a que chamam julgamento durou apenas um minuto.


Os fuzilamentos não param. Nas matas, em aeroportos, nos campos de futebol, na presença das populações, centenas de guineenses cujo único "crime" foi terem sido leais à sua Pátria, acabam por ser sumariamente executados. E os linchamentos continuam até aos anos 80, sob as ordens de Luís Cabral, durante este período presidente da Guiné.
Os corpos são atirados de qualquer maneira para valas comuns nas matas de Jugudul, Cumeré, Portogole, Mansabá e Mansoa e, pretendendo que tudo tivesse um ar de natural legalidade, era então passada uma ingénua certidão de óbito - muitas vezes em papel timbrado e selado com as armas de Portugal -, na qual se atestava que "...faleceu por fuzilamento um indivíduo do sexo masculino...".
A má consciência das autoridades portuguesas responsáveis pela soberania nacional naquela província não deixa de ser evidente pelo desconforto com que encaram a situação. Na entrevista que o Alto-Comissário concede a um jornalista do semanário O Diabo, em 1994, o lavar de mãos é bem patente:
"O então brigadeiro Carlos Fabião foi o último representante do Governo Central na Guiné-Bissau.
Falámos-lhe à hora do jantar sobre este assunto indigesto: a morte de cerca de quatrocentos homens presos no Cumeré, fuzilados por se terem batido por Portugal, como portugueses que eram.
O Diabo - O que é que se fez pelos soldados naturais da Guiné pertencentes ao Exército português?
A surpresa pela pergunta sobre matéria tão óbvia era nítida na voz do Brigadeiro Fabião ao responder:
Carlos Fabião - Desmobilizámos as forças guineenses e pagámos-lhes os salários até ao final do ano.
O Diabo - Mas o que é que se fez para garantir a sua segurança?
C.F. - Desde o início das conversações com o PAIGC que se tratou dessa gente. Foi-nos dito que seriam integrados e tratados como a restante população guineense.
O Diabo - Sabe que foram fuzilados às centenas, senhor brigadeiro?
C.F. - Bem, nós deixámos lá um embaixador português" [Entrevista ao jornal O Diabo de 12 de Abril de 1994].
Como Carlos Fabião culpa o embaixador de Portugal, O Diabo procura-o para permitir o contraditório: "O embaixador Sá Coutinho representava a soberania portuguesa na Guiné-Bissau ao tempo destes acontecimentos. Abordado por 'O DIABO' reconheceu terem chegado até à Embaixada vagos rumores sobre estes fuzilamentos, que na altura foram classificados de boatos. O clima que se vivia em Bissau era, segundo ele, pacífico e, se bem que não pudesse ser considerado de abundância, satisfatório no tocante ao abastecimento de bens essenciais. Reconhece que se praticavam algumas perseguições, das quais o clamor não devia atravessar as paredes da embaixada..."».

Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna, Abel Melo e Sousa («Alpoim Calvão. Honra e Dever»).

Plano Marshall e Salazar

 


Plano Marshall, esse desconhecido, ocultado ou deturpado pela desinformação em relação ao Estado Novo bem como em relação à figura de Oliveira Salazar.
Aqui fica um artigo que se pretende de uma forma simples contribua para desmistificar esta situação.

Memórias do Portugal respeitado*
por Pedro Quartin Graça, em 27.04.10
Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall. O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão. Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder.
Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal.
Não estava previsto o seu regresso aos EUA. Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo".
Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa. Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo.
O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável. Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas. Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.
Estoril, 18 de Abril de 2010
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O lugar do Comunismo.

 Proféticas palavras, temos hoje um povo sem coração e vazio de inteligência.


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"Tomemos sobretudo em mãos a iniciativa da campanha, porque é para mim evidente que o comunismo em Portugal só pode tomar o lugar que nós deixarmos vago na inteligência e no coração dos portugueses".

Salazar

Grupo Bilderberg e a derrocada de Portugal.

  Os verdadeiros motivos por trás da derrocada monumental de uma grande nação. «O Senhor Dr. Freire Antunes, muito recentemente, em artigo ...