«(...) a resignação, em 1961, do Prof. Oliveira Salazar das funções de Presidente do Conselho de Ministros, teria como consequência fatal que a carnificina em Angola, que já vitimara 7.000 brancos e negros, tomaria muito maiores proporções, com dezenas de milhares de mortes.
E aqueles que sustaram aquela resignação, abortando o golpe Botelho Moniz-Costa Gomes, têm hoje a paz de consciência e a satisfação espiritual de terem evitado o que bem poderia chamar-se um holocausto.
Mas o golpe, falhado de inteligência e misto de ingenuidade ou erro e de crime, do "25 de Abril" de 1974, inverteu o sentido das lutas em Angola, Moçambique e Guiné - lutas que, mantendo-se a Metrópole, nunca poderiam perder-se e que, pelo menos em relação aos dois primeiros territórios, estavam a ganhar-se. Provocou a guerra em Timor - onde havia plena paz. E deu lugar à descolonização. Em consequência, produziram-se centenas de milhares de mortes e instalaram-se e generalizaram-se a ruína e a miséria, o sofrimento e a desgraça.
E aqueles que de tal são responsáveis suportam e suportarão para sempre, se possuírem um mínimo de consciência, o remorso de tamanho holocausto e serão, cedo ou mais tarde, chamados a juízo pelos homens ou por Deus.
Assim, os que, em 1961, puderam, com acerto em todos os domínios, evitar a grande ampliação de um drama, não tiveram, em 1974 e tempos seguintes, posição, que lhes havia sido negada ou retirada, para impedirem que outros, em completo desvario ou com premeditadas intenções, provocassem uma enorme catástrofe».
Kaúlza de Arriaga («Guerra e Política. Em Nome da Verdade. Os Anos Decisivos»).
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